A liberdade assistida de se
morar sozinho inclui poder comprar Nescau ao invés de Toddy. Inclui poder
transferir toda sua louça que havia dentro do armário para dentro da pia e
lavar quando não encontrar mais um copo para poder beber água e inclui também
não precisar arrumar sua cama, já que será você mesma que irá deitar nela nas
próximas horas.
Você aprende os dias de
feira, os dias que tem promoção de hortifrúti no supermercado e passa a
valorizar qualquer tipo de oferta, promoção, pague 2 e leve 3 ou qualquer coisa
do gênero. Você mantém aquele amigo de anos sempre por perto com apelos de
amizade, pois chuveiros queimam e você passa bem longe da caixa de força da sua
casa.
Você descobre que um puff
pode mudar uma vida, que um bom produto de limpeza faz toda a diferença e que
limpar a casa é uma missão bem cruel, porém necessária. Você passa a criar
admiração por formas que saem o fundo, produtos que limpam os cantinhos do
banheiro, comidas congeladas, tapioca e omelete. Acreditem! Pessoas sobrevivem
com café, omelete e tapioca. E é incrível.
Você passa a reparar nas
luzes que ficam acesas e apaga todas elas, o quinto dia útil do mês é
considerado o Dia do Pesadelo oficial, em que sua caixa do correio fica
transbordando contas e boletos para pagar. Você aprende que papel higiênico é
um item de extrema importância assim como também acaba em um piscar de olhos e
é uma das coisas mais caras que a gente nunca havia reparado e que seu fogão às
vezes parece mais um campo de batalha e você não se vê com coragem nenhuma de
encarar a guerra.
Você não entende como o
lixo enche tão rápido e fica se preguntando porque é que ele não se esvazia
sozinho assim como gostaria que as fronhas dos seus travesseiros fossem
trocadas com mágica. Sou a única que tem uma preguiça existencial em trocar
fronha de travesseiro? Que morte lenta.
E a peruca que você encontra
diariamente no chão da sua casa? Manter a casa limpa sem cabelo por toda parte
parece ser uma missão tão impossível quanto fazer amizade com os vizinhos que
parecem ser todos casados e com crianças que gritam diariamente e correm por
toda parte como se morassem no Central Park e te olham estranhamente como a
solteira-porra-louca do condomínio.
Você descobre que, apesar
dos apesares, morar sozinho (se você não for de Touro e Peixes que transbordam
carência) faz você se (re) encontrar e trocar momentos de solidão pelos de
solitude. Você passa a se ver mais
exigente, pois não aceita mais qualquer coisa. Você priva seu espaço e sua
bagunça e não permite mais que qualquer um invada sua bolha e com isso passa a
se cercar de pessoas que somam e deixa com que sumam as que em nada acrescentam.
Não é fácil é verdade. É
cruel ter de encarar uma tarde de limpeza quando seu desejo é se jogar na cama
e transbordar nos seus travesseiros. Mas acredite, no final você ri sozinho da sua bagunça e se surpreende
com sua coragem. Você faz da sua experiência de morar sozinho a sua melhor
arte.
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